Deficiência auditiva em crianças: etiologia, sinais, diagnótico e tratamento
Dia 10 de novembro é celebrado o Dia Nacional de Prevenção e Combate à Surdez. A data foi criada pela Portaria de Consolidação MS nº 1/2.017, art. 527 como símbolo de luta pela educação, conscientização e prevenção sobre os problemas relacionados à surdez e à saúde auditiva. Para marcar a data e ainda trazer um pouco mais de informações para estudantes de Medicina, o Revisamed – Revisional em Medicina separou uma artigo especial que trara da “Deficiência auditiva em crianças”. Escrito pelo Otorrinolaringologia Udayan K. Shah, (Sidney Kimmel Medical College at Thomas Jefferson University).
Cerca de 10 milhões de brasileiros possuem algum grau de deficiência auditiva, o que equivale a 5% da população brasileira. Desse número, 7 milhões apresentam surdez severa, com predomínio de 54% de homens e 46% de mulheres.
Ao apresentar o seu artigo K. Shah fala das causas mais comuns da deficiência audita, diagnóstico e das formas de tratamento que que podem incluir aparelho auditivo ou implante coclear em crianças.”.
Vamos à integra do artigo que, certamente, vai ampliar seus conhecimentos sobre o tema.
A seguir, você vai saber:
Deficiência auditiva em crianças
As causas mais comuns da perda auditiva são defeitos genéticos em neonatos e infecções de orelha e cerume em crianças. Muitos casos são detectados por triagem, mas deve-se suspeitar da perda de audição se as crianças não respondem a sons ou têm atraso no desenvolvimento da fala.
Além disto, o diagnóstico é geralmente por meio de testes eletrodiagnósticos (teste de emissões otoacústicas evocadas e resposta auditiva do tronco encefálico) em recém-nascidos e por exame clínico e timpanometria em crianças. O tratamento para a perda auditiva irreversível pode incluir aparelho auditivo ou implante coclear.
Em todo o mundo, cerca de meio bilhão de pessoas (quase 8% da população mundial) tem perda auditiva. Mais de 10% das pessoas nos EUA têm algum grau de perda auditiva que compromete sua comunicação diária, tornando-a o distúrbio sensorial mais comum. Cerca de 1/800 a 1/1.000 recém-nascidos nascem com perda auditiva grave a profunda. Duas a 3 vezes mais, nascem com perda de audição mais leve.
Durante a infância, mais 2 a 3/1.000 crianças adquirem a perda auditiva moderada a grave. Os adolescentes estão em risco de exposição excessiva ao ruído, traumatismo craniano, ou ambos. Adultos mais velhos normalmente apresentam diminuição progressiva da audição (presbiacusia), o que provavelmente está diretamente relacionado com envelhecimento, exposição a ruídos e fatores genéticos. Estima-se que cerca de 30 milhões de pessoas nos EUA estão expostas a níveis prejudiciais de ruído diariamente.
Deficit auditivo na infância pode resultar em prejuízos ao longo da vida, principalmente nas habilidades de linguagem receptiva e expressiva. Determina-se a gravidade da deficiência por
- Idade em que ocorreu a perda auditiva
- Natureza da perda (sua duração, as frequências afetadas e o grau)
- Suscetibilidades individuais da criança (p. ex., coexistência com deficiência visual, deficiência intelectual, deficits primários de linguagem, ambiente linguístico inadequado)
As crianças que têm outras deficiências sensoriais, linguísticas ou cognitivas são afetadas mais gravemente.
Etiologia
Recém-nascidos
As causas mais comuns da perda auditiva em neonatos são
- Infecção congênita por citomegalovírus ( CMV)
- Defeitos genéticos (ver tabela Algumas causas genéticas da perda auditiva)
Infecção congênita por CMV é a infecção intrauterina mais comum nos EUA. Infecção por CMV pode ser responsável por até 21% de toda a perda auditiva neurossensorial ao nascimento. Além disso, como a infecção por CMV também pode causar perda auditiva de início tardio, o CMV pode ser responsável por até 25% da perda auditiva neurossensorial presente aos 4 anos de idade.
Os fatores de risco da perda auditiva em neonatos incluem:
- Baixo peso ao nascer (p. ex., < 1,5 kg)
- Classificação de Apgar < 5 a (1 minuto) ou 7 (5 minutos)
- Hipoxemia ou convulsões resultantes de parto difícil
- Infecção pré-natal com rubéola, sífilis, herpes, citomegalovírus ou toxoplasmose
- Anomalias craniofaciais, particularmente aquelas que envolvem a orelha externa
- Hiperbilirrubinemia
- Sepse or meningite
- Dependência de respirador
- Uso de fármacos ototóxicos
- História familiar de perda auditiva precoce
Recém-nascidos e crianças
As causas mais comuns em lactentes e crianças são
- Acúmulo de cerúmen
- Efusão na orelha média, incluindo otite média com derrame.
Outras causas em crianças maiores incluem lesões na cabeça, ruídos altos (incluindo música alta), uso de fármacos ototóxicos (p. ex., aminoglicosídeos, tiazidas), infecções virais (p. ex., caxumba), tumores ou lesões que afetam o nervo auditivo, corpos estranhos no canal auditivo e, raramente, doenças autoimunes.
Os fatores de risco da perda auditiva em crianças incluem aqueles para neonatos além dos seguintes:
- Fratura craniana ou perda traumática de consciência
- Colesteatoma
- Doenças neurodegenerativas, incluindo neurofibromatose
- Exposição ao ruído
- Perfuração da membrana timpânica
Sinais e sintomas
Se a perda auditiva é grave, o lactente ou criança não consegue responder a sons ou pode ter atraso na fala ou na compreensão da linguagem. Se a perda auditiva é menos grave, as crianças podem ignorar intermitentemente as pessoas que falam com elas. As crianças podem parecem estar se desenvolvendo bem em certos ambientes, mas têm problemas em outros. Por exemplo, como o ruído de fundo de uma sala de aula pode dificultar a discriminação da fala, a criança pode ter problemas de audição apenas na escola.
Não detectar e não tratar a deficiência pode prejudicar gravemente a compreensão da linguagem e fala. A deficiência pode levar ao fracasso escolar, provocação por colegas, isolamento social e dificuldades emocionais.
Diagnóstico
- Testes eletrodiagnósticos (neonatos)
- Exame clínico e timpanometria (crianças)
Frequentemente recomenda-se a triagem de todos os recém-nascidos antes dos 3 meses de idade e é legalmente obrigatória na maioria dos estados (1). O exame de triagem inicial é feito pelo teste de emissões otoacústicas evocadas, usando estalidos suaves feitos por um dispositivo portátil. Se os resultados são anormais ou equívocos, testam-se as respostas auditivas evocadas no tronco encefálico, o que pode ser feito durante o sono; resultados anormais devem ser confirmados com a repetição dos testes após 1 mês. Se há suspeita de uma causa genética, pode-se fazer testes genéticos.
Em crianças, podem ser utilizados outros métodos. Avaliam-se clinicamente a fala e o desenvolvimento. Examinam-se as orelhas, e testa-se o movimento da membrana timpânica em resposta a várias frequências na triagem a procura de derrames da orelha média. Em crianças com 6 meses a 2 anos de idade, a resposta a sons é testada. Aos > 2 anos de idade, a capacidade de seguir comandos auditivos simples pode ser avaliada, assim como as respostas a sons usando fones de ouvido pode ser avaliada. Pode-se usar a avaliação do processamento auditivo central para crianças > 7 anos sem deficits neurocognitivos que parecem ouvir, mas não compreender.
Imagens são muitas vezes indicadas para identificar a etiologia e orientar o prognóstico. Para a maioria dos casos, incluindo quando o exame neurológico é anormal, reconhecimento de palavras é ruim e/ou a perda de audição é assimétrica, RM com gadolínio é feita. Se houver suspeita de anormalidades ósseas, TC é feita.
Tratamento
- Aparelhos auditivos ou implantes cocleares para a perda auditiva irreversível
- Às vezes, ensinar um idioma não auditivo
Tratam-se as anomalias e as causas reversíveis.
Se a perda auditiva é irreversível, um aparelho auditivo geralmente pode ser usado. Eles estão disponíveis para neonatos, bem como crianças. Se a perda auditiva é leve ou moderada ou afeta apenas uma orelha, pode ser usado um aparelho auditivo ou fones de ouvido. Na sala de aula, um aparelho auditivo por ondas FM pode ser usado. No aparelho auditivo por ondas FM, o professor fala em um microfone que envia sinais para um aparelho auditivo na orelha não afetada.
Se a perda auditiva é grave o suficiente para que possa ser tratada com aparelhos auditivos, pode ser necessário um implante coclear. As crianças também podem necessitar de terapia para dar suporte ao desenvolvimento da linguagem, como aulas para aprender a linguagem de sinais.
Pontos-chave
- As causas mais comuns da perda auditiva em neonatos são infecção por citomegalovírus ou defeitos genéticos e, em lactentes e crianças maiores, são o acúmulo de cerume e derrames na orelha média.
- Suspeitar de perda auditiva se a resposta de uma criança a sons ou desenvolvimento da fala e linguagem é anormal.
- Monitorar em lactentes a perda de audição, começando com testes de emissões otoacústicas evocadas.
- Diagnosticar as crianças com base nos resultados do exame clínico e timpanometria.
- Tratar a perda auditiva irreversível com um aparelho auditivo ou implante coclear e linguagem de apoio (p. ex., ensinar a língua de sinais) conforme necessário.
Referências
Referência sobre etiologia da deficiência auditiva em crianças
- 1. Goderis J, De Leenheer E, Smets K, et al: Hearing loss and congenital CMV infection: A systematic review. Pediatrics 134(5):972–982, 2014. doi: 10.1542/peds.2014-1173
Referência sobre diagnóstico da deficiência auditiva em crianças
- 1. US Preventive Services Task Force: Universal screening for hearing loss in newborns: US Preventive Services Task Force recommendation statement. Pediatrics 122(1):143–148, 2008. doi: 10.1542/peds.2007-2210