O que é Saúde Planetária? Conheça esse novo campo da Medicina

Menina segura globo mundial na mão e o escuta por meio de um estetoscópio. A imagem tem por objetivo ilustrar o tema da Saúde Planetária, que correlaciona a saúde ambiental com a humana.
A saúde planetária é um campo voltado para investigar as interdependências entre a saúde dos sistemas naturais do planeta e a saúde da civilização humana. O tema entrelaça desde as ciências básicas, sociais, políticas e até mesmo as exatas e técnicas.

O que é Saúde Planetária?

A saúde planetária é um novo campo da medicina que estuda os efeitos da poluição ambiental sobre a saúde humana. Segundo a revista científica The Lancet, “saúde planetária é a conquista do mais alto padrão possível de saúde, bem-estar e equidade em todo o mundo, mediante atenção criteriosa aos sistemas humanos – políticos, econômicos e sociais – que moldam o futuro da humanidade e os sistemas naturais da Terra”. O objetivo é tratar a sustentabilidade e a vida humana no planeta sob uma ótica cada vez mais integrativa, transdisciplinar e global.

Por que se preocupar com a saúde planetária

Em entrevista para o Jornal da Suprema, a médica criadora e idealizadora da Série SUS e do Rural Family Medicine Café, Mayara Floss, explica que a Saúde Planetária tem a missão de repensar a forma como os seres humanos habitam a terra e se relacionam a natureza. Sua importância consiste na reflexão de que não tem como ter uma humanidade e um população saudável se não temos um planeta com convivência saudáveis. “É a nossa existência. Precisamos pensar outra forma de viver antes que a economia destrua o planeta. Todo mundo conectado, e isso precisa de um equilíbrio. Quando o planeta passa a aquecer e acontecem desastres naturais, estamos à mercê das sequelas e consequências. Já se tem no relatório do IPCC que o que está acontecendo é de responsabilidade das atividades humanas. Então, a forma como a humanidade está vivendo e se construindo está valendo a pena? O individualismo, o excesso de comida industrializada, será que esse jeito de viver que estamos acostumados está valendo a pena para a população e para a nossa saúde?”, pontua.

Mayra Floss é doutoranda na área de patologia, com interesse  em comunicação, saúde rural e planetária. Faz  parte do Grupo Saúde Planetária e do IEA-USP, e é Consultora do Projeto Planet&ar, uma parceria entre a Suprema e Fiocruz/BA.
Mayra Floss é doutoranda na área de patologia, com interesse em comunicação, saúde rural e planetária. Faz parte do Grupo Saúde Planetária e do IEA-USP, e é Consultora do Projeto Planet&ar, uma parceria entre a Suprema e Fiocruz/BA.

Saúde Planetária e Epidemias

As epidemias estão aumentando, tanto em número quanto em extensão. Doenças sazonais, infectocontagiosas estão aparecendo de forma irregular. Países são afetados por doenças que já não existiam há muito tempo e para as quais não estão preparados para responder. Nesse sentido, Floss correlaciona a relação direta do clima às doenças. ” Quando aumenta a temperatura do planeta, aumenta a capacidade vetorial de transmissão da doença do mosquito da dengue. Isso quer dizer que esse mosquito vai transmitir mais. O Brasil, que é muito afetado por esse tipo de doença, precisa estar consciente de que esse aumento da temperatura interfere na transmissão de doenças pelo mosquito. Mas, temos vários outros problemas. Quando há um desastre natural, enchentes, seca, as pessoas ficam à mercê do contagio, contato com a água, falta do controle dos próprios mosquitos e outros vetores. É urgente terem ações de adaptação e mitigação, e aqui no Brasil plantarmos de volta a Amazônia que foi cortada. Se isso não acontecer, a humanidade vai para um caminho que não tem volta”

O desmatamento da Amazônia: efeitos na saúde da população

O desmatamento da Amazônia, queimadas, o garimpo que inclusive tem sido pauta política sua legalização – mesmo sendo tóxico e contaminando a água. O garimpo ilegal já impacta a população. Sem contar que estamos reduzindo perigosamente a área silvestre colocando em risco de um próximo vírus surgir na Amazônia, que é tão vital para o Brasil e o mundo. Ela cria, por exemplo, uma nuvem em cima dela que faz chover em outros lugares, fenômeno conhecido como rios voadores. “O corte da floresta impede que outros locais tenham chuvas, causando secas. Não é à toa que Santa Catarina, no começo deste ano, passou por uma das piores secas da história. Precisamos ligar essas determinantes. E entender que tudo está conectado”.

Floss ressalta que para reverter o cenário atual é preciso que a população compreenda os desafios contemporâneos e estabeleçam estratégias. ” Isso vai desde mudanças individuais, como escolhas alimentares, andar mais a pé, reduzir o uso de carros, fazer uso do transporte público. Trazer para nossa vivência ações que refletem na existência desse planeta. Que possamos pensar em mais saídas e construções para uma saúde, um planeta melhor”, conclui.

Planet & Ar: Suprema e Fiocruz

Em busca de promover e difundir as ações em Saúde Planetária, a Faculdade Suprema e o Instituto Gonzalo Moniz – Fiocruz Bahia criaram o projeto Planet & Ar. A pareceria entre as duas instituições teve início neste ano na Ilha de Maré, que está localizada no centro da Baía de Todos os Santos, em Salvador. O local é formado por pequenos vilarejos e é remanescente de quilombos. A comunidade vive da pesca e da pequena agricultura familiar.

Sob a supervisão do professor e médico infectologista Marcos Moura, estudantes do curso de Medicina da Suprema, passaram um período na Ilha elaborando um diagnóstico situacional, desenvolvendo estratégias de vigilância popular, de análises de riscos para a poluição do ar e demais vulnerabilidades socioambientais e sanitárias da região. A próxima etapa do projeto é, a partir das necessidades encontradas, voltar ao local com soluções sustentáveis e que promovam impactos na saúde dos moradores e no ambiente em que vivem.

O coordenador e professor Marcos Moura do projeto Planet & Ar e estudantes da FCMS/JF na Ilha da Maré, em novembro de 2021.
O coordenador e professor Marcos Moura do projeto Planet & Ar e estudantes da FCMS/JF na Ilha da Maré, em novembro de 2021.

A Pesquisadora em Saúde Pública da Fiocruz Bahia e Coordenadora do Projeto Planet&Ar, Nelzair Vianna, explica que a parceria possibilita desenvolver atividades em campo com os estudantes, com o conceito de Saúde Planetária. Ela ressalta que um dos principais objetivos do Planet&Ar é “desenvolver esta área dentro da formação medica, de novos profissionais da saúde para que eles possam estabelecer uma correlação direta da saúde humana com a degradação ambiental e o desenvolvimento econômico. Então, esses profissionais estarão aptos a desenvolver esse pensamento sistêmico e atuar sob uma nova perspectiva, onde possam desenvolver práticas e condutas clinicas que valorizem estilos de vida mais saudáveis e também uma nova consciência sobre a vida no planeta”, conclui a pesquisadora.

Evidências mostram que a degradação ambiental favorece o aparecimento de diversas doenças. Para Marcos Moura, combater apenas os agentes etiológicos não é o suficiente para debelar essas doenças. “A preservação do meio ambiente pode prevenir diversas enfermidades. Por isso, a Fiocruz com expertise de anos de estudos em saúde planetária e controle do ar e da água, percebeu que manter esse ambiente saudável, sem poluição, pode favorecer a diminuição de aparecimento de novas doenças. A gente precisa entender a saúde como um todo e é fundamental que o médico se insira nesses contextos e se conecte com seus pacientes”, diz.

O Planet&Ar teve início com a pandemia da Covid-19, onde foi observada a importância de se prevenir e entender as pandemias e doenças infectocontagiosas, bem como a ligação com a distribuição territorial e degradação ambiental. E essa possibilidade de despertar a consciência em Saúde Planetária nos estudantes da área da saúde é um dos pontos mais importantes desta parceria. As ações são pioneiras no contexto da saúde e colocam o profissional como agente. O projeto traz para o estudante de medicina essa vivência, onde ele tem experiências e lida com populações vulneráveis e que vivem em ambientes com degradação ambiental. Com isso, ele compreende quais doenças estão relacionados naquele contexto.

novo campo da Medicina a saúde Planetária.
Fotos do primeira ação do projeto Planet & Ar
saude planetária novo campo da Medicina
Impactos de ações humanas sobre a Saúde Planetária

Programa de Embaixadores da Saúde Planetária

Os estudantes envolvidos no projeto também foram estimulados a participar do Programa de Embaixadores da Saúde Planetária, um programa nacional da USP – Universidade de São Paulo. Durante o projeto, os embaixadores construirão sua rede de Saúde Planetária e desenvolverão ações educando a comunidade e facilitando as iniciativas existentes no âmbito da saúde humana e das mudanças ambientais. Dez acadêmicos da Suprema foram aprovados e se tornam embaixadores nacionais.

I Simpósio Saúde Planetária: Evento gratuito com certificado de participação!

E aí, vamos começar a entender o que é Saúde Planetária e qual o impacto dela no mundo? Se você quer se aprofundar nesse assunto super importante e atual, a hora é agora!

Estão abertas as inscrições para o I Simpósio de Saúde Planetária que será que será realizado na Faculdade Suprema, campus Juiz de Fora. Fruto da parceria entre a Suprema e o Instituto Gonzalo Moniz – Fiocruz Bahia, o primeiro encontro será realizado no dia 02 de Julho com presença confirmada da Pesquisadora da Fiocruz, Professora Dra. Nelzair Vianna, o Médico de Família e Comunidade e Chair da WONCA Professor Dr. Enrique Barros e o Médico Infectologista, Professor Dr. Marcos Moura.

O evento é gratuito, tem vagas limitadas e gera certificado de participação. Para se inscrever, é necessário enviar um e-mail para ndct@suprema.edu.br. Faça agora sua matricula!

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