Demografia traça perfil de médicos residentes; mulheres serão maioria em 2024
Qual o perfil do médico residente no Brasil? São 41.853.residentes no Brasil, destes 48% cursam programas em quatro especialidades: Clínica Médica (14,2%), Pediatria (10,87%), Ginecologia e Obstetrícia (9,15%) e Cirurgia Geral (9,08%). Cerca de 33,3% fazem residência no estado de São Paulo, seguido por Minas Gerais (11,1%), Rio de Janeiro (10%) e Rio Grande do Sul (7,1%), é o que revela a Demografia Médica no Brasil 2023. Confira abaixo.
Qual o perfil dos programas de residência médica e dos residentes no país? Estas e outras questões são respondidas na nova edição do estudo Demografia Médica no Brasil (DMB), conduzido pelo Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
Entre os destaques da DMB está o crescimento do número de médicos especialistas no país: 84% em 10 anos. Além disto, o estudo aponta que as mulheres serão maioria na profissão já em 2024 ( projeção de 299.749 mil médicas (50,2%) contra 297.678 (49,8%) de médicos homens. O estudo também projeta que país chegará em 2035 com mais de 1 milhão de médicos, deste total 56% serão de mulheres.
O número total de registros de médicos titulados no país chega a 495.716, o que representa 84% a mais em relação aos 268,2 mil registros existentes em 2012. Trata-se de um dado inédito e relevante da Demografia Médica, resultado da expansão da Residência Médica no Brasil e da atuação da Associação Médica Brasileira – AMB e de suas filiadas – sociedades de especialidade que concedem títulos de especialistas.
Um mesmo médico pode ter título ou ter concluído Residência Médica em mais de uma especialidade e, por isso, o número de títulos em especialidades é maior que o número de indivíduos especialistas.
A seguir, você vai saber:
Perfil dos programas de residência médica e dos residentes
Quando o assunto é o perfil dos programas de residência médica e dos residentes, o estudo traz uma série de informações. Entre os pontos destacados estão a concentração de instituições com programas de residência médica na região Sudeste: 56,1% dos médicos residentes em 2021.
Em seguida estão as regiões Nordeste (16,7%) e Sul (16,1%). Centro-Oeste (7,5%) e Norte (3,6%) têm as menores proporções de residentes.
Em 2021, 4.950 programas de RM estavam credenciados no Brasil. Naquele ano, os 41.853 médicos que cursavam Residência Médica representavam cerca de 8% do total de médicos em atividade no país.
São Paulo concentra 1/3 dos residentes de todo país
O estado de São Paulo concentra 33,3% de todos os residentes, seguido por Minas Gerais (11,1%), Rio de Janeiro (10%) e Rio Grande do Sul (7,1%). Das 27 unidades da Federação, 11 possuem menos de 1% do total de residentes do país. Desses, à exceção do Mato Grosso, todos se localizam nas regiões Norte e Nordeste.
O Distrito Federal é a unidade federativa com maior densidade de médicos residentes por 100.000 habitantes (44,92), seguido por São Paulo (29,86), Rio Grande do Sul (25,84) e Rio de Janeiro (24,06). No outro extremo, o estado do Maranhão apresenta a densidade mais baixa (4,57), seguido por Amapá (5,13) e Pará (7,10).
Especialidades com maior número de residentes
O número de médicos cursando Residência Médica também cresceu, entre os anos pesquisado na Demografia, ou seja, entre 2018 e 2021. Neste período, o número de médicos que cursavam Residência Médica no Brasil passou de 38.681 para 41.853.
Em 2021, cerca de 48% dos médicos residentes cursavam programas em quatro especialidades: Clínica Médica (14,2%), Pediatria (10,87%), Ginecologia e Obstetrícia (9,15%) e Cirurgia Geral (9,08%).
Já os programas com menor número de residentes em 2021 eram Angiologia (2 residentes), Medicina de Tráfego (3), Homeopatia (10), Alergia e Imunologia (12) e Medicina Legal e Perícia Médica (13).
A concentração em Clínica Médica e Cirurgia Geral/Área Cirúrgica Básica se deve também ao fato de serem pré-requisito para acessar outros programas de RM.
As especialidades com maior número de residentes são as mesmas com maior número de médicos especialistas titulados
Médicos residentes (total e R1), segundo especialidade cursada, em 2021
Evolução de vagas de residência médica por especialidades médicas
O número de médicos cursando R1 a cada ano é indicador da evolução da oferta de vagas de RM nas especialidades médicas. Nos quatro anos avaliados, de 2018 a 2021, poucas especialidades apresentaram crescimento do efetivo de R1 (veja tabela).
Medicina de Emergência, Patologia Clínica/Medicina Laboratorial, Genética Médica, Medicina Preventiva e Social, Homeopatia, Medicina do Trabalho e Nutrologia aumentaram vagas em termos percentuais no período, mas também são especialidades com menor número de médicos em relação ao total de residentes.
Por outro lado, entre especialidades que concentram maior número de residentes (Tabela acima), somente Medicina de Família e Comunidade apresentou crescimento, ainda que modesto (3,1% ao ano). Clínica Médica e Ginecologia e Obstetrícia, que concentram grande número de residentes, apresentaram tendência de estagnação nos anos avaliados, com taxas decrescentes de crescimento (-1,7% e -3,9% ao ano, respectivamente).
As especialidades Medicina de Tráfego, Cirurgia Geral, Radioterapia, Medicina Nuclear e Angiologia apresentaram maior decréscimo. Com exceção da Cirurgia Geral, são especialidades que têm número reduzido de residentes.
Quanto à Cirurgia Geral, que apresentou taxa negativa (-33,8% ao ano), cabe ressaltar que trata-se de uma readequação, após a implantação, em 2019, do programa pré-requisito em área cirúrgica básica. O programa ficou vigente por dois anos e foi extinto em 2022.
Ofertas de vagas não atende demanda de alunos
Ao comparar a oferta nacional de vagas de primeiro ano de Residência Médica com o número de profissionais que concluíram Medicina no ano anterior percebe-se um descompasso entre a formação especializada e o ensino de graduação.
Em razão da abertura de cursos de medicina, as vagas de R1 disponíveis no Brasil não têm sido suficientes para formar especialistas em quantidade equivalente aos novos registros de médicos formados no ano anterior.
Considerando que, em 2022, eram ofertadas 41.805 vagas de graduação de Medicina no Brasil, em curto prazo a defasagem de vagas deve aumentar enormemente, caso não haja expansão da oferta de RM.
Cabe lembrar, contudo, que não é obrigatório cursar RM para exercer a medicina no Brasil.
Há médicos que adiam a entrada ou decidem não cursar RM, muitos preferem atuar como generalistas ou buscam outra modalidade de formação especializada.
Vagas de RM atendem aos recém-formados ou recém-inscritos em CRMs e também aos médicos sem título de especialista que se avolumam ano a ano.
Vagas autorizadas e não ocupadas
Quando o tema é o número de vagas de R1 autorizadas pela CNRM e que deixaram de ser ocupadas ou preenchidas, os dados apontam que, embora tenha ocorrido aumento do número de vagas autorizadas entre 2018 e 2021, houve crescimento da não ocupação no período.
Em 2018, das 23.179 vagas autorizadas, 3.637 (15,7%) não foram ocupadas. Já em 2020 e 2021, as taxas de não ocupação praticamente dobraram em relação a 2018. Em 2020, foram 6.593 vagas não ocupadas – ou 28,1% das vagas autorizadas no ano.
Em 2021, a ociosidade chegou a 31,8% do total de vagas autorizadas.
Motivo das vagas ociosas
Segundo o estudo DMB não há consenso sobre o conceito e a mensuração de “vagas ociosas” de RM, pois a não ocupação pode ser influenciada por múltiplos fatores: das barreiras administrativas e falhas das instituições nos registros de dados à falta de financiamento de bolsas, ausência de preceptores e de capacidade instalada dos programas.
Há, ainda, desistências de médicos que deixam de se apresentar ao programa no qual foram aprovados, a menor procura de determinadas especialidades e instituições, limitações das bases da SisCNRM, entre outros motivos.
Já a pandemia de covid-19 pode ter impactado na ocupação de vagas de RM nos anos de 2020 e 2021.Os dados atuais não são comparáveis com taxas de ociosidade de RM divulgadas no estudo Demografia Médica no Brasil 2020.
Residentes querem trabalhar no SUS ou Rede Privada?
Ainda conforme a nova Demografia Médica no Brasil, apenas 24,6% dos médicos residentes entrevistados afirmaram ter intenção de trabalhar majoritariamente ou exclusivamente no SUS (Sistema Único de Saúde) no prazo de um ano após a conclusão da residência.
No cenário de após cinco anos da conclusão da RM, a intenção de trabalhar majoritariamente ou exclusivamente no SUS cai para cai para 12,1% dos entrevistados.
A maioria dos residentes (55,7%) pretende, um ano após a formação, manter exercício profissional de dupla prática, dividindo a atuação profissional entre os serviços público e privado. Porcentagem semelhante (49%) pretende manter essa inserção público-privada após cinco anos de formado.
Cerca de 20% dos residentes entrevistados revelaram a intenção de trabalhar majoritariamente ou integralmente no sistema privado após um ano da conclusão do curso. Essa proporção sobe para 40% quando questionados sobre a intenção de local de trabalho cinco anos após a conclusão da RM.
Financiamento de bolsas de Residência Médica
O médico residente recebe bolsa para regime especial de treinamento em serviço de 60 horas semanais. A concessão de bolsas é prevista em lei e, desde janeiro de 2022, o valor mensal passou a ser de R$ 4.106,09, ao qual podem ser
acrescidos benefícios excepcionais.
O financiamento de bolsas de RM no Brasil é majoritariamente público. O Ministério da Saúde (MS) é o principal pagador, arcando com cerca de 40% das bolsas de RM, seguido pelo Ministério da Educação (21%) e pelos governos estaduais (19%).
Conclusão sobre o perfil da Residência Médica
Em resumo, o estudo aponta alguns caminhos para o aperfeiçoamento dos programas de Residência Médica no Brasil que corrigiam a questão de vagas ociosas, demanda, regionalização entre outros.
A análise da evolução da oferta de formação médica especializada é uma ferramenta útil para o planejamento e projeção do número de especialistas com os quais o sistema de saúde brasileiro poderá contar.
O levantamento sugere medidas que podem ser implementadas por gestores de Residência Médica e de políticas de saúde e educação:
- Compatibilizar a oferta de RM com o aumento de novos médicos que demandarão formação especializada nos próximos anos, em função do aumento de egressos da graduação;
- Diminuir desigualdades regionais na oferta de vagas de RM e na presença de médicos residentes, o que pode ter impacto na melhor distribuição de médicos especialistas no país;
- Readequar a distribuição de vagas de RM entre as especialidades médicas, considerando serviços e áreas estratégicas para a sustentabilidade do SUS, necessidades de saúde segundo perfis epidemiológico e demográfico, além de aspectos do mercado de trabalho médico;
- Avaliar o impacto de legislação e programas governamentais de incentivo à abertura de vagas e financiamento de bolsas de RM;
- Superar os obstáculos que impedem o pleno preenchimento e ocupação de vagas de Residência Médica autorizadas.
(Com Assessoria da AMB) – Fonte: Demografia Médica no Brasil 2023.